A tensão entre os Estados Unidos e a Rússia atinge níveis críticos após um ultimato severo feito pelo presidente americano Donald Trump ao presidente russo Vladimir Putin. Em meio à intensificação dos conflitos na Ucrânia, Trump declarou categoricamente que se os constantes ataques aéreos a Kiev não cessarem, o cenário sofrerá mudanças drásticas – e nada agradáveis para a Rússia. O receio de um confronto direto entre as duas maiores potências nucleares do mundo é crescente, e as razões por trás dessa crise diplomática são complexas.
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Desde o início da invasão russa à Ucrânia, há mais de três anos, inúmeras tentativas de negociação de paz ocorreram, mas invariavelmente fracassaram. Os primeiros esforços de diálogo, como as reuniões em Belarus e na Turquia em 2022, chegaram a propor termos preliminares de um acordo, mas foram rapidamente descartados após a descoberta dos massacres em cidades ucranianas como Bucha, endurecendo a posição do presidente ucraniano Volodymyr Zelenski.
Com o passar dos anos, o impasse se consolidou, com a Rússia ocupando cerca de 20% do território ucraniano. Mesmo iniciativas de paz mediadas por terceiros, como uma missão africana em 2023 e uma reunião em Jeddah, não lograram aproximar as partes. Contudo, a eleição de Donald Trump em novembro passado trouxe uma nova dinâmica ao cenário.
Durante sua campanha eleitoral, Trump afirmou que resolveria a guerra em 24 horas caso fosse eleito. Enquanto muitos analistas descartaram essa promessa como mero discurso eleitoreiro, o mandato de Trump começou com uma ofensiva diplomática agressiva. Já em fevereiro, teve um telefonema direto com Putin e rapidamente deu início às negociações. Surpreendentemente, o primeiro encontro presencial dessas discussões ocorreu em Riad, sem a presença da Ucrânia, gerando críticas severas de Zelenski.
Apesar das tensões, a pressão diplomática de Trump pareceu dar frutos de certo modo. Sob incentivo dos Estados Unidos, a Ucrânia declarou-se disposta a aceitar um cessar-fogo imediato de 30 dias, contanto que a Rússia também o fizesse sem pré-condições. Esta oferta foi uma concessão notável de Zelenski, que anteriormente exigia a retirada russa para qualquer trégua. Como gesto de apoio, os EUA concordaram em retomar o suporte militar e a troca de informações de inteligência com a Ucrânia, pausados quando as conversas com a Rússia começaram.
Por outro lado, a resposta de Putin às propostas de cessar-fogo foi ambígua. Ele afirmou que a ideia era válida, mas que havia detalhes a serem ajustados. As exigências russas incluíam garantias de que grupos extremistas ucranianos respeitariam o cessar-fogo e expressaram oposição a verificações de forças de paz internacionais. Entretanto, as ações no campo de batalha contradiziam qualquer intenção de cessar-fogo, com intensificação dos ataques e um aumento considerável no lançamento de bombas guiadas.
Em um movimento inesperado, Putin proclamou uma breve trégua de Páscoa em abril, mas poucos minutos após o anúncio sirenes de ataque aéreo soaram em Kiev. Zelenski acusou o presidente russo de brincar com vidas humanas, circunstância que reforçou a gravidade da ameaça feita por Trump mais tarde. Diversos especialistas acreditam que Trump estaria considerando aumentos no apoio militar à Ucrânia, sanções econômicas mais não só agressivas, como um possível embargo total ao petróleo russo, e até mesmo medidas diretas, como ataques cibernéticos.
Por que, mesmo diante dessa pressão crescente, Putin parece determinado a resistir a um cessar-fogo? De acordo com analistas, há várias razões: Putin busca que a Ucrânia adote uma posição de neutralidade permanente perante a OTAN e que reconheça as anexações russas; além disso, acredita que o tempo está ao seu favor, com a Rússia ganhando terreno enquanto a Ucrânia enfrenta dificuldades. A estratégia de Putin inclui também uma aposta nas divisões políticas no Ocidente e um eventual cansaço com a guerra, esperando que as mudanças políticas na Europa e nos Estados Unidos, como a eleição de Trump, alterem o apoio a Kiev.
Neste complexo tabuleiro geopolítico, a ameaça de Trump insere um novo elemento na equação, cujo desdobramento permanece imprevisível. Fica agora a expectativa se a ameaça americana será suficiente para forçar Putin a ceder, ou se o mundo assistirá a um aumento da hostilidade entre as duas nações. A incerteza continua a reinar sobre o futuro do conflito, enquanto o povo ucraniano aguarda por paz em meio à turbulência diplomática global.