A crescente tensão entre China e Estados Unidos tomou proporções alarmantes no segundo semestre de 2024, com a revelação de um massivo ataque de espionagem digital realizado por hackers chineses. Denominado Saltyfon, o ataque é considerado pelo Senado dos EUA como o maior já registrado contra suas redes de telecomunicações, infiltrando-se em gigantes como AT&T e Verizon. Essa operação levantou preocupações profundas quanto à segurança nacional e expôs a vulnerabilidade das infraestruturas críticas americanas, ressaltando as complexas interconexões entre comércio, política e segurança global.
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O Saltyfon permitiu que a inteligência chinesa monitorasse comunicações dentro dos Estados Unidos, abrangendo desde figuras políticas de alto escalão até campanhas presidenciais, como a do ex-presidente Donald Trump. O ataque não se limitou a escuta passiva; os hackers obtiveram também acesso a sistemas internos das agências de inteligência norte-americanas. Tais medidas indicam um esforço coordenado da China para ganhar precedência na guerra cibernética, à luz do apoio americano a Taiwan – questão sensível vista por Pequim como uma afronta à sua soberania.
Embora a China tenha negado qualquer envolvimento, há algumas semanas, delegações chinesas admitiram em reunião secreta seu papel no ataque, justificando-o como uma retaliação ao envolvimento dos EUA em Taiwan. John Tiger, ex-brigadeiro general da Força Aérea Americana, destacou a gravidade da situação, enfatizando que a China demonstrou capacidade para interromper atividades críticas nos EUA, como distribuição de energia e abastecimento de água.
A investida cibernética não parou no Saltyfon. O Volt Typhoon, outra ameaça identificada, envolvia a colocação estratégica de malwares nas infraestruturas do país, aguardando um comando para ativação. A espionagem estendeu-se também à população geral, com aplicativos populares sendo usados para elevar divisões internas nos EUA. Em 2024, durante a corrida presidencial, contas associadas à China influenciaram debates sobre direitos reprodutivos e tensões raciais, impactando a opinião pública.
Particularmente preocupante é o caso do TikTok. Em dezembro de 2022, a ByteDance, empresa mãe do aplicativo, reconheceu que dados de usuários americanos foram acessados por funcionários na China visando rastrear jornalistas. Esta confissão levanta suspeitas sobre a proteção dos dados armazenados fora da China.
A capacidade chinesa de paralisar os EUA foi descrita como esmagadora. Embora o FBI tenha buscado reforçar suas defesas, as disparidades continuam gritantes. O vasto programa de hackers da China exacerba temores de uma potencial invasão a Taiwan, situação vista como um teste decisivo para as relações EUA-China.
A dependência econômica dos EUA em relação à China complica o cenário, expondo vulnerabilidades que Pequim pode explorar. A recente escalada militar em torno de Taiwan, com exercícios chineses simulando um bloqueio à ilha, reflete a estratégia de intimidação da China perante a comunidade internacional. Em março de 2025, mais de 431 aeronaves chinesas invadiram a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan, somando-se a navios de guerra que cercavam a região.
Essas ações fazem parte do que especialistas denominam “guerra na zona cinzenta”, um confronto que não desencadeia hostilidades bélicas tradicionais, mas utiliza táticas híbridas para maximizar pressão política e social. A China, ao lado de países como a Rússia, já demonstrou habilidade em operações que manipulam eleições internacionais e interrompem infraestruturas, desestabilizando adversários sem necessidade de declarações formais de guerra.
O presidente Trump, em meio a essas tensões, implementou tarifas adicionais sobre produtos chineses, gesto que aprofundou a crise econômica chinesa. Xi Jinping, líder da China, enfrenta internações políticas internas e pode considerar que uma ação militar direta sobre Taiwan desvie a atenção de problemas domésticos, consolidando seu poder.
Na perspectiva global, a disputa entre essas potências transcende questões territoriais, destacando a guerra silenciosa travada no espaço digital. Para os Estados Unidos e aliados, o desafio é assegurar a proteção de suas infraestruturas críticas contra tal agressão. A guerra digital impõe um novo paradigma no equilíbrio de poder mundial, onde a segurança das comunicações é crucial.
Diante deste cenário, cabe à comunidade internacional reavaliar suas estratégias de segurança, adaptando-se a um ambiente onde a tecnologia é a nova linha de frente. A ameaça dos ataques cibernéticos é concreta e demanda uma resposta coordenada para mitigar riscos e preservar a estabilidade global.